♡Reportagem: Thais Schreiner, especial para aNaturalíssima
♡Edição: Marcela rodrigues ♡Ilustração: Marília Senott
Um frasco tão pequeno, com tantas cores encantadoras, mas diversos males diluídos. Você já parou para pensar o que compõe um esmalte? Quando falamos sobre transição para a beleza natural é comum demorarmos a refletir sobre o uso deles. Mas acredite: o potencial tóxico é alto, seja para nós, seja para o meio ambiente. Isso porque a rotina de fazer as unhas envolve uma exposição enorme a químicos potentes tão perigosa quanto a produção de resíduos envolvida no processo.
Vale destacar que as unhas (e toda a sua estrutura) são altamente absorventes. Pense, então, sobre o efeito cumulativo desse hábito de beleza, especialmente enraizado e valorizado na cultura brasileira. Não à toa é um setor altamente lucrativo. Seus efeitos, no entanto, são nocivos tanto à saúde humana quanto ao meio ambiente.
Mas o que pode ter dentro de um esmalte?
Conheça as substâncias suspeitas nos esmaltes convencionais
De maneira generalista, um esmalte é composto em sua maioria por solventes (responsáveis por transformar determinados ingredientes em uma solução) e, em menor escala, por corantes, resinas e plastificantes. Abaixo, detalhamos os riscos desses grupos principais, dando nome aos possíveis vilões mais utilizados, e apresentamos alternativas mais seguras e sustentáveis.
SOLVENTES\ Responsáveis por transformar determinados ingredientes em uma solução e, dessa forma, confere flexibilidade e espalhabilidade. São os mais perigosos e seus formatos de uso mais comuns são:
Tolueno (Toluene): É um dos ingredientes da classificação vermelha (tóxica) da plataforma de tradução de ingredientes limpp.com.vc. Pode causar irritação na pele e estudos apontam suspeita de prejuízo da fertilidade . Ao meio ambiente a sua bioconcentração já apresentou níveis de risco moderado no solo e ambientes aquáticos, com efeitos tóxicos de longo prazo. NA UNIÃO EUROPEIA (CosIng) e BRASIL ANVISA é permitido apenas em produtos para unhas com concentração máxima de 25%. “Seu risco é superior para profissionais que trabalham com substância, visto que é a partir de contato com grandes volumes (10³ microgramas), muito superior ao presente em cosméticos para unhas (1 – 4 microgramas)”, observa a orientação da limpp. Outros nomes nos rótulos: METHYL-BENZENE, METHYLBENZENE, METHYLBENZOL, MONOMETHYL BENZENE, PHENYL-METHANE, PHENYLMETHANE e TOLUOL.
Formaldeído (Formaldehyde): O famoso formol, nome abreviado do formaldeído, é um ingrediente de potencial carcinogênico confirmado, causa irritação/queima da pele e do olhos e é altamente tóxico ao toque, inalação ou ingestão, podendo estimular crises de asma e náuseas. À natureza, é igualmente perigoso. Outros possíveis nomes: FORMALIN • METHANAL • FORMOL • METHYLENE OXIDE • OXOMETHANE • PARAFORMALDEHYDE • PARAFORM • FORMIC ALDEHYDE • OXYMETHYLENE • METHYL ALDEHYDE • FANNOFORM • FORMALITH • FORMALDEHYDE SOLUTION • METHALDEHYDE • ALDACIDE
Ftalatos (Dibutil Ftalato ou DBP): nos esmaltes, têm importante papel fixador e de brilho, mas, em linhas gerais, são ativos capazes de transformar plásticos rígidos em materiais maleáveis. Porque, sim, a película de cor formada nada mais é do que um plástico de espessura fina. É considerado um desregulador endócrino e pode prejudicar a fertilidade e/ou o feto. Os ftalatos estão classificados pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) como possivelmente carcinogênicos para humanos (grupo 2B). Sua bioconcentração e toxicidade em organismos aquáticos é alta. Podendo ser eliminado no meio ambiente através de vários fluxos de resíduos. Outros nomes nos rótulos: DI-N-BUTYL PHTHALATE • N-BUTYL PHTHALATE • BUTYL PHTHALATE • DIBUTYLPHTHALATE • DIBUTYL-O-PHTHALATE • STAFLEX DBP • DIBUTYL BENZENE-1,2-DICARBOXYLATE • DIBUTYL 1,2-BENZENEDICARBOXYLATE • ERGOPLAST FDB • KODAFLEX DBP • PHTHALIC ACID DIBUTYL ESTER • FTALATO
RESINAS\\ Tem por objetivo impermeabilizar a superfície tanto na manicure quanto em seus outros diversos usos. Nos esmaltes, seu principal formato é o:
Trifenil Fosfato (Triphenyl Phosphate): TPHP ou, como em muitas embalagens aparece, fosfato de trifenil. Atraiu os radares da indústria ao ser comprovadamente relacionamento a alterações endócrinas capazes de desestabilizar o organismo como um todo, causando de problemas hormonais a infertilidade. Ao meio ambiente pesquisas comprovam que sua bioconcentração apresentou níveis de risco moderado no solo e ambientes aquáticos, com efeitos tóxicos de longo prazo.
PLASTIFICANTES\\ A maleabilidade conquistada com os solventes precisa ser mantida e, para isso, entram em cena os plastificantes, que ajudam na manutenção da uniformidade e na prevenção de rachaduras, aumentando a duração do produto.
Cânfora (Camphor): apesar de sua origem ser natural, para seu uso como plastificante e que entregue aspecto brilhante recebe ativos que podem causar reações alérgicas moderadas.
REMOVEDORES\ a rotina para manter este padrão de beleza por si só envolvem outros detalhes, como a acetona, a fórmula mais popolar utilizada para a remoção da substância das unhas.
Acetona (acetone): apesar de não fazer parte da formulação, é diretamente associada com a utilização de esmaltes e tem um risco inerente. Ele é um ingrediente de classificação Amarelo ( Risco Leve) da plataforma de tradução de ingredientes limpp.com.vc. Pode causar irritação ocular e tontura. Vale lembrar ainda do uso do algodão que, não raro, está ligado a uma produção que envolve agrotóxicos e outros impactos ambientais.
Menos esmalte, menos lixo
Além dos riscos das composições, o hábito de manter as unhas sempre esmaltadas envolve uma grande produção de resíduos (algodão para limpar e remover, por exemplo, além do próprio esmalte, que é uma partícula plástica, e o descarte das embalagens).
“A prática de fazer as unhas produz alguns resíduos de reciclagem mais complexa. Por isso, é importante entender o quanto a marca utilizada busca soluções para reduzir esse impacto, como a utilização de matérias-primas com menor toxicidade, programas de embalagens retornáveis e informação clara e acessível sobre descarte correto”, ressalta Gabriela Reis, gerente de marketing da eureciclo, empresa de logística reversa que atua na valorização dos profissionais da reciclagem e na diminuição do impacto negativo ao meio ambiente.
ESMALTAÇÃO CONSCIENTE, É POSSÍVEL?
Boas opções são: esmaltes hipoalergênicos (livre de ativos relacionados a reações alérgicas especificamente) e os esmaltes 9-free (sem formol, tolueno, DBP, resina, cânfora, petrolatos e outros conservantes), já encontrados na indústria tradicional. Os últimos, inclusive, são os mais próximos de uma composição essencialmente natural, que apresentam ainda fórmulas veganas, orgânicas e biodegradáveis, feitas com ativos naturais extraídos da natureza e com benefícios para a saúde e beleza.
Marcas de esmaltes veganos e conscientes
As marcas Benecos, alemã, e Twoone Onetwo e Surya Brasil, ambas nacionais, tem as formulações mais limpas do mercado. Mas a Natura e O Boticário também já tem suas linhas livres das principais substâncias suspeitas.
Como descartar esmaltes
Na hora de descartar frascos de esmalte, deixe-os de ponta-cabeça e, se necessário, use um pouco de removedor natural (ponto superimportante para a sua saúde e a da natureza!) para limpar totalmente a embalagem e, assim, conseguir destina-la à reciclagem. A ideia é escorrer todo o resto do esmalte em um jornal, amassar e destinar ao lixo doméstico comum.
Mas ainda assim, reduzir o uso desse produto é a atitude mais consciente.
*Acompanhe esta semana a série da esmaltação consciente aqui no anaturalissima.com.br e no perfil no instagram
* Se reproduzir as informações acima, dê crédito com link.
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