A imagem romantizada do consumo de bebidas alcoólicas resiste ao tempo. Estamos no auge da vacinação e os planos de comemoração pós-pandemia incluem bares, festas e até mesmo o próximo carnaval. Em comum: muito, muito álcool. Como se ele tivesse ficado ausente durante o confinamento.
Mas - por mais que os drinks sem álcool tenham ganhado destaque como uma tendência de bem-estar para 2021 - uma pesquisa da Escola de Saúde Publica da Universidade de Johns Hopkins e da Universidade de Maryland apontou que 60% das pessoas que responderam a uma enquete online relataram que seu consumo de álcool havia aumentado. Para a metade delas, a principal causa do aumento foi o estresse — quem se sentia muito ou extremamente estressado bebeu mais em mais dias da semana…A pesquisa é só um recorte americano do que tem acontecido ao redor do mundo.
Pois é, o consumo do álcool está sempre romantizado na forma de alívio, relaxamento, alegria, descontração. O resultado são dados alarmantes, mas que não diminuem as propagandas. Pelo contrário, elas só ganham novas roupagens e são cada vez mais associadas ao consumo moderado e, mais recentemente, ao auto-conhecimento.
Por isso mesmo, para além dos grandes graves impactos tão falados, como acidentes de trânsito, vício e doenças cardiovasculares, além da relação com casos de violência doméstica e depressão, há de se debater também a relação do consumo de álcool no bem-estar integral.
A romantização da moderação
A velha máxima de que uma tacinha de vinho por dia faria bem à saúde tem sido cada vez mais contestada. Segundo o endocrinologista Luiz Fernando Sella, Mestre em Medicina do Estilo de Vida pela Universidade de Loma Linda (EUA), esta recomendação sempre foi sustentada pela alta concentração de resveratrol, um potente antioxidante no vinho. Mas, se depender de novas análises, esta lógica nem sempre vale o "custo benefício":
"Alguns estudos apontam que uma taça de vinho por dia aumenta em 10% o risco de câncer”, compartilha o médico. Logo, se a ideia é manter um aporte de resveratrol no dia a dia, seria mais estratégico, saudável e eficaz, apostar em sucos de uva integral e sem açúcar, e no consumo de frutas vermelhas na rotina diária.
Há um nível seguro para o consumo de álcool? “Nem sempre. Se você não bebe, não comece. Se você bebe, reduza ao máximo” - Dr. Luis Fernando Sella
Álcool & beleza: envelhecimento precoce, acne e rosácea
Quando se pensa sobre o impacto do álcool na sua saúde, a maioria das pessoas considera apenas o que ele faz aos seus órgãos internos. Mas, você realmente entende seus efeitos devastadores no maior órgão do seu corpo, a pele?
O álcool está intimamente ligado ao envelhecimento precoce. “É uma substância tóxica, ele age nas células acelerando o envelhecimentos de todos os tecidos - Luiz Fernando Sella.
Quando falamos diretamente da pele, há uma relação com diminuição de vitaminas, sobretudo da vitamina A, que mantém a pele firme e jovem. “O álcool ainda encurta os telômeros que são partes finais do DNA. Eles são as extremidades dos cromossomos e têm a função crucial de proteger o DNA que está nas nossas células. E quanto menor, mais rápido", explica o especialista.
Um artigo publicado no The Journal of Clinical and Aesthetic Dermatology, confirma que já foram encontradas associações claras entre envelhecimento facial da pele e consumo excessivo de álcool:
"O consumo de álcool prejudica o sistema de defesa antioxidante da pele, diminuindo as concentrações dérmicas de carotenoides (que ajudam a proteger contra os danos dos radicais livres".
Menos hidratação, mais oleosidade
E mais: você acha que é mera coincidência às idas frequentes ao banheiro após alguns copos? Segundo o artigo, o consumo excessivo de álcool diminui a produção do Hormônio Antidiurético (ADH), que o corpo utiliza principalmente para reabsorver água nos tecidos corporais. Como o álcool suprime sua produção, o corpo acaba perdendo muita água ao urinar com frequência.
O organismo, então, tenta combater isso secretando mais sebo nas células da pele, o que, por sua vez, causa a oleosidade da pele. Resultado: pode acontecer a piora em casos de cravos, espinhas e oleosidade.
Até rosácea!
Estudos ainda apontam a relação do álcool com rosácea porque a bebida prejudicaria o centro vasomotor do cérebro, induzindo vasodilatação periférica. Foi sugerido que vasodilatação cutânea resultante e efeitos pró-inflamatórios da ingestão de álcool (em diferentes tipos de bebidas) podem contribuir para o vermelhidão e rubor característico da rosácea.
Bebidas alcoolicas e consciência
“O álcool é um depressor do sistema nervoso central. Isso significa que o a bebida deixa as células nervosas do cérebro menos excitadas e há evidências que o cérebro está desacelerando: como discurso alterado, tempo de reação lento, audição entorpecida, visão prejudicada, diminuição de força e memória nebulosa, entre outras”, explica Carol Presotto (Simrat), médica dermatologista e professora de Kundalini Yoga.
"Por atuar em partes específicas do cérebro, o álcool desinibe e traz uma aparente sociabilidade. Mas, na verdade, não é um estado real" - Carol Presotto (Simrat).
"Quando falamos de conexão e energia, estamos falando de sermos a expressão de nossa essência, de nós mesmos. Você quer se conectar, então você precisa de um sistema nervoso forte. O álcool gera um estado alterado de consciência, você perde a ligação direta com você mesmo. É uma fantasia”, explica
Álcool e energia
Tudo tem um impacto na vibração, porque tudo é vibração. E como o álcool atua neste contexto? "Quando você ingere o álcool, a frequência do álcool está se entrelaçando com a sua frequência assim como com a frequência do que está ao nosso redor e isso está gerando um impacto que pode ser expansivo ou contraído", destaca a médica.
Assim, o álcool afetaria diretamente nosso campo áurico e os canais sutis de energia, que na ciências milenares são chamados de nadis e são responsáveis pelo fluxo de prana, a energia vital.
Aliás, dentro das linhas espirituais milenares o consumo de álcool é considerado uma intoxicação, elemento que nos distancia de nós mesmos.
"Nesta lógica, não caberia o caminho do meio. Ser moderado é fundamental em todas as atividades, no entanto algumas não são compatíveis com uma vida de busca por autoconhecimento” - Oberom, escritor, professor de yoga, e especialista em fisiologia.
Ele ressalta que tal reflexão não é um julgamento contra pessoas que tomam cerveja, vinho, cachaça. “Cada um no seu processo, sem juízo de mais ou menos. É uma reflexão apenas para termos um cuidado com o que o capitalismo vem fazendo e se apropriando de tudo”, destaca Oberom, autor do livro Vegan Yoga.
Se a preocupação é a saúde a longo prazo, os efeitos na pele ou o impacto em nosso campo áurico, a questão é: seria a moderação relativa a cada indivíduo, bebida ou momento? Seria um apelo de marketing? Fica a reflexão.
Nota editorial: esta reportagem não tem o objetivo de fazer um julgamento do consumo de álcool como certo ou errado, mas trazer reflexões para o cuidado com a beleza, sempre tão atrelado ao consumo de produtos; colocar o argumento do consumo moderado em perspectiva e a relação com bem-estar integrado.
Além das entrevistas exclusivas, também utilizamos informações de :https://www.cdc.gov/chronicdisease/ * https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6715121/ * https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6715121/#B4 * https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6715121/#B10 *https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5438297/pdf/nihms855205.pdf*
Imagens Crate and Barrel e alteregodepega.tumblr.com
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