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A tatuagem pela perspectiva do consumo consciente: das tintas ao ritmo





Recentemente a notícia de que a União Europeia proibiu a utilização de cerca de quatro mil tintas coloridas usadas em tatuagens por riscos à saúde após recomendação da Agência Europeia dos Produtos Químicos, finalmente colocou o setor sob a sustentabilidade. Algo até então pouco discutido. Entre pesquisas, controversas e curiosidades, fato é que a relação desse setor com o consumo consciente transita por diferentes aspectos, que vai do impacto das tintas à ressignificação do tatuar.


A começar pela formulação. Um estudo realizado pela Registro, Avaliação e Restrição de Substâncias Químicas (REACH) encontrou agentes cancerígenos em algumas fórmulas das tintas. Além de delicado, o assunto tem suas controversas no mercado por conta da falta de alternativas para os produtos proibidos.


TINTAS: POSSÍVEL TOXICIDADE, IMPACTOS E AFINS


Até agora, a única definição por lá é que os fabricantes de tinturas têm até o dia 4 de janeiro de 2023 para produzir substitutos para as substâncias proibidas que possuam o mesmo efeito duradouro e ofereçam as cores utilizadas pelos estúdios de tatuagem.


“Acredito que o mundo da tatuagem ainda tem muito a percorrer em termos de alinhar postura e consumo consciente. No caso da polêmica das tintas, não há resultados conclusivos. É bem delicado porque a formulação das tintas entre as marcas ainda é algo como uma receita de coca-cola - não sabemos exatamente o que há nelas” - Julia D’Alkmin, tatuadora de São Paulo.

A dermatologista Isabela Costa destaca que, mesmo ainda novo e delicado, é importante ficar de olho neste tema. “Durante a tatuagem pequenos vasos da pele são traumatizados e as substâncias injetadas podem atingir órgãos internos”, afirma.


No lugar do desespero, a médica destaca que “precisamos ficar alerta e exigir uma investigação mais aprofundada sobre as nossas tintas aqui no Brasil. Assim estaremos mais próximos das adaptações”.


O menor impacto possível: do respeito ao ritmo ao cuidado planetário




Não há regras, tampouco acordos que obriguem estúdios a reduzirem plástico, optarem por produtos sem origem animal ou coisas do tipo. O cuidado varia de acordo com o profissional.


Tatuadora há seis anos, Julia D'Alkmin conta que a própria filosofia de vida a levou, por exemplo, às tintas veganas que ela utiliza: fabricadas nos Estados unidos sem poeira de ossos. Petrolatos também foram banidos das etapas de cuidado quando ela passou a usar produtos, como as pomadas de cicatrização, de marcas naturais e terapêuticas.


Outro grande desafio do ramo, segundo ela, é o uso do plástico em certas etapas do processo, já que o material faz parte de determinações de normas de higiene e segurança. O jeito é garantir a redução do impacto, inclusive nos detalhes: “Aqui tentamos reciclar o máximo possível, além de usar pomadas e outros produtos veganos e mais naturais”, diz Julia.



A tatuagem no processo de ritualizar o cuidado




Se não há uma fórmula para a tatuagem sustentável, o caminho mais responsável é como na prática do consumo de qualquer outra categoria: procurar a alternativa mais alinhada com as próprias causas e estilo de vida. Foi assim que cheguei ao Estúdio da Julia, para a minha quarta e discreta (como as outras) tatuagem.


Aliás, foi a Julia que chegou até mim, quando me convidou para facilitar uma roda de conversa sobre autocuidado em seu antigo estúdio. Três anos depois - ela morou fora neste período - tatuei com ela.


Cheguei aqui registrar aqui recortes da minha experiência (desde então, ela trocou de espaço), agradável por alguns aspectos inegociáveis para mim: o ambiente seguro mentalmente é um deles. Explico: silêncio e\ou músicas não agitem meus pensamentos (como já aconteceu antes), segurança, respeito ao meu tempo-decisão, detalhes que encantam os sentidos e, claro, um processo que vale por um ritual.


A conforto mental começa por ser um estúdio privado, com horário individual e sem pressa. No caso desta tatuagem, testei pelo menos três locais do corpo. Entre os testes, sem pressão para que eu escolhesse e liberasse o horário mais rápido, conversamos sobre cuidado, rituais e consumo consciente.


Julia sintoniza o trabalho com o próprio estilo de vida, mas é bem nítido que faz adaptações ao acolhimento para cada cliente. Entusiastas dos pequenos detalhes e da estética botânica, como eu, facilmente se encantam com a decoração autêntica, os aromas e outros elementos.



“É importante lembrar que a ideia de ser consciente também passa pela saúde mental. Neste sentido, é enxergar a tatuagem como um ritual e, a partir daí, com mais zelo, cuidado a gentileza. Isso vai desde a pessoa se sentir segura por ser ela mesma, ter seu ritmo respeitado, até sentir que sua escolha teve todo o cuidado, como merece uma escolha movida a significados".

(Foto studio e vídeo: acervo pessoal Julia D'Alkmin | Alecrim: A Naturalíssima)



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